Friday, March 24, 2006

Sua vida

Ele chega em casa de saco cheio do mundo, se joga no sofá e toca uma punheta. Só pra ver se o humor melhora, ou se ele se esquece um pouco de tudo aquilo. Começa lembrando de uma menina, depois de outra, depois de ninguém especificamente: pega todas as melhores características de cada uma e junta tudo numa só. A deusa. Hoje de manhã tinha passado um email pra uma de suas garotinhas mandando ela ir pro inferno, e ela tinha respondido em um tom preocupado: o que está acontecendo com você? Você está triste? Estou tão preocupada.

No caminho de casa pra o trabalho ele fica olhando as pessoas. As mulheres. Pra passar o tempo. Obviamente o tempo não passa mais como antes, mas ele pelo menos pode catalogar o melhor daquelas mulheres e depois usar na próxima vez que se masturbar.

Não é raiva que o deixa assim, é um medo ridículo – o tipo de medo que as crianças têm quando está escuro. Ele diz que não quer ninguém mas da última vez que ela esteve lá tinha sido ótimo, um paraíso: ele até acreditou que estava apaixonado. Agora ele tecnicamente não tem mais ninguém, e consegue afastar as amiguinhas sem maiores explicações. Seria engraçado se ela dissesse: You go to hell, sucker! Mas ela nunca diria isso, em toda a sua meiguice cristã.

Ontem à noite ele estava satisfeito porque mandou uma colega de trabalho baixar o tom de voz quando estivesse se dirigindo a ele. Ela olhou entre desconfiado e perplexa, mas no final optou por não dizer mais nada e virar as costas. Foi uma glória. Mas uma glória muito rápida, porque agora ele já não acha que aquilo sirva de porra nenhuma para a sua vida. É que muita coisa está errada e nada acontece e é tão enlouquecedor esse estado de revolta paralisada.

Como as criancinhas que têm medo de escuro, ele acende sua raiva acreditando que assim estará protegido dos monstros. Não percebe que monstro interior é bem pior. Que come por dentro. Talvez ele precise de uma dose dupla de Gin Tônica pura uma vez ou outra. Quem sabe ele precisa entender que o problema é todo dele, e só dele. Ou talvez ele esteja mesmo necessitando é de uma viagem pra Cuba. Pra descansar nas águas transparentes de Fidel.

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