Friday, July 07, 2006

Funeral

Depois de 80 primaveras, o único José que tem como apelido Oliveira, resolveu deixar este mundo. Morreu no meio da tarde, bem no horário que a sua inquietação e sentimento de inutilidade ficavam claras. Minha mãe quem me falou. De São Paulo para o Rio, do Rio para a casa da minha avó e de lá fomos todos de carros e caronas até o cemitério, dedicar um último olhar e a primeira de uma série de lágrimas àquele que em conseqüência das últimas doenças tornou-se imensamente frágil. Aquele cenário não combinava em nada com o meu avô que simbolizava vitalidade, mas a realidade era demonstrada com o seu nome falado e repetido baixinho nas orações de duas senhoras missionárias da Santa Casa.

Acontece que a morte de alguém com mais de 80 anos não é exatamente uma surpresa, e por isso minutos anteriores à cerimônia foram dedicadas a dois expressos com dois cigarros e notícias de quem nasceu, quem está sem emprego, quem casou, quem separou e quem foi preso por porte de drogas. E então, deitado em berço de flores, Oliveira foi servido.

Não gosto de enterros. Não curto essa de passar a mão na cabeça do morto, beijar suas faces frias e deixar que as minhas lágrimas manchem a roupa engomada. Portanto, quando entra o caixão, saio eu. Fiquei lá da porta tentando me lembrar de Oliveira estalando meus dedos enquanto assistíamos TV. Repassei mentalmente a história de como o nosso homenageado reagiu bravamente ao esfaqueamento sofrido em um assalto. E não consegui rezar.

Alguém me explicou que, naquela altura, Oliveira estaria no hospital das almas, sendo tratado das dores do espírito, recebido pelos pais, os amigos e parentes já passadas desta também. Ouvi tudo com extrema atenção e penso:"Deve ser muito bom acreditar nisso tudo".

Depois levaram Oliveira embora. E até agora eu não entendi direito o que aconteceu; tanto que não consigo terminar este texto de maneira apropriada. Talvez porque a próprio Oliveira não tenha terminado totalmente, entende? Penso agora como será o próximo 13 de Junho: aniversário meu e do Oliveira.

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