Tuesday, April 11, 2006

O Sexo

Hoje tenho uma vontade enorme de comer. Muita vontade de comer. Não pela fome, mas pelo prazer, e eu ando precisando de prazer. Venho sentindo muita falta de sexo, mas depois concluo que não é bem falta o que eu sinto, é a vontade de ter alguém bajulando e ligando, alguém que eu possa dizer: esse cara me quer, tem o maior tesão em mim, há-há-há. Alguém pra me fazer sentir desejável e, por conseqüência, um pouco superior ao resto dos humanos.
Mas alguma coisa me diz que a falta de dramaticidade de hoje tem a ver com a ausência de sexo. Sexo é dramático, na sua essência. Principalmente para os carentes, que vivem misturando alhos com bugalhos e buscam amores entre trepadas homéricas. Não tem jeito não, se foi bom a vontade é de falar que ama. Mesmo que não ame. Faz parte da dramaticidade da cena. E depois, quando o sujeito em questão desaparece, o mundo fica cinza e surgem aos borbotões milhões de criações estéticas e perfeitas. Se o sujeito aparece como manda o figurino, o mundo fica colorido e, da mesma forma, a vida se enche de inspiração.
O problema é tudo o que o sexo traz com ele. É um ritual demorado, que exige encontros de apresentação e jogos de conquista. O sexo há muito tempo não é natural, não é puramente carnal e cheio de tesão. Tem um monte de filosofia-lixo envolvida. Uns poucos, uns que se contam nos dedos, ainda fazem pela impulsividade do ato. Mas a grande maioria se perdeu na convenção social baseada na imagem do homem e mulher perfeitos. No desejo ilimitado ao corpo. Não entendem que pra uma trepada inacreditavelmente inesquecível é preciso ser + ser, sem conquistas, sem lutas, sem estereótipos, sem silicone. Apenas o desejo, aquele toque inconfundível e raro que algumas pessoas já sentiram com outras, o toque que dá vontade de transar em qualquer lugar, a qualquer hora.

Friday, April 07, 2006

Eu e o caos

Nos últimos tempos tenho ouvido um milhão de conselhos. E isso me surpreende, pois resolvido como sempre fui concedia mais conselhos e como fortaleza apresentada quase nunca recebera. Mas, com o andar da carruagem devo ter me transformado em uma pessoa gritantemente caótica – seja na maneira de (não) me vestir adequadamente para trabalhar, ou no modo pouco paciente (na verdade mal educado) de tratar as pessoas que hoje convivem comigo, ou na falta de ânimo e excesso de desânimo adquirida atualmente.

Vai ver é isso mesmo, sou filho do caos. Falando assim até parece bonito, “filho do caos”, lembrando uma pessoa sem amarras, sem limites, livre pra voar. Rá. Eu adoraria acordar de manhã com os cabelos lisos e arrumados à la moicano com muito gel, adoraria não suar no calor (juro que vi um carinha que não espirrou uma única gota de suor em sua blusa branca, em plena pista de electro na última noite curtida em Campinas. Eu adoraria. Mas, sei lá por quais tortuosos e esquisitos caminhos da vida, eu virei isso mesmo, complicado, enrolado e indeciso.Acaba que atraio gente bem resolvida. Gente que dá, sem eu pedir, mil conselhos de bem viver. Eles dizem: “seja você mesmo”, como se eu tivesse a mínima idéia de quem eu sou! Será que é fácil ser eu mesmo, se eu mudo de comportamento a cada lua e a cada mudança de umidade do ar: hoje, confuso, amanhã, poderoso, depois, menino tímido e mal resolvido. Sei lá quem eu sou. Alguém sabe quem é? Ou então, dizem assim: “você não é mais criança”. Será? Só sei que me tornei adulto quando preciso me virar para pagar o aluguel, ir ao dentista sozinho, negociar dívida com minha gerente do Banco. Outros falam: “projete um objetivo e trace um caminho direto até ele”. Nem comento que meu objetivo já mudou um milhão de vezes nos últimos anos. Já quis ser professor, já quis ser solteiro-independente, já quis casar, já quis chutar o balde e viajar. Já quis o mundo inteiro, e continuo querendo, mas de outra forma: pra mim, filho do caos, o mundo é mutante, é gasoso, é facilmente perdido em buracos negros.
Se eu disser um dia que amo alguém, por favor, não acreditem. Eu acreditarei, e posso até me jogar na linha do trem por esse amor. Mas, se sobreviver mais uma semana, eu vou rir demais de toda tragédia, eu viro comédia e ponto. Wanderson: ame-o ou deixe-o, e o último que sair por favor apague a luz.